sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Porque eu não acredito no inferno.

“Você já viu o vento? Mas sabe que ele existe não sabe? Então, assim é Deus, como o vento, você não vê, mas sabe que existe”

Domingo passado tive que escutar essa profundíssima afirmação de um senhor que batia a minha porta. É realmente uma tarefa árdua, primeiro porque não vale à pena adentrar numa discussão desse nível. Segundo, a amplitude mental de quem faz tal afirmação pueril, é tão reduzida que não conseguirá abstrair idéias mais complexas, cuja compreensão se faria necessária para adentrar em um tema com tal envergadura, de natureza filosófica inclusive. 
 Freqüentemente sou confundido com Ateu, justamente pela falta de amplitude mental dessas pessoas que sequer sabem o que é o ateísmo, ser cético é diferente de ser ateu, acredito em Deus, mas não acredito no Deus e seus princípios absurdos pregados por essa turba de religiosos que infestam nossa orbe. Das mais infantis e pueris está a idéia do inferno e do diabo, não é preciso dizer que o diabo é um ser mitológico, deturpado e caricaturado para exercer o papel de instrumento de dominação, sem esses instrumentos de imposição de medo e dominação nenhuma religião se sustentaria, qualquer criança sabe disso. Também não é necessária nenhuma filosofia profunda, nem lógica apurada para ver que a idéia do inferno não se sustenta sob o rigor da racionalidade.

 1 - A existência do inferno pressupõe que ele tenha sido criado por Deus, do contrário ele não seria criador de todas as coisas. 

2 – A existência do diabo também pressupõe que ele tenha sido criado por Deus, já que ele é o criador de todas as coisas, essa é uma idéia elementar que até mesmo os crentes puderam perceber que não havia lógica nessa sustentação, logo, desenvolveram a teoria que o diabo era um anjo de luz (lúcifer) que decaiu, um anjo que virou demônio. Ora, essa teoria também não se sustenta porque contraria a onisciência de Deus. Deus como sabedor de todas as coisas, teria de saber que lúcifer decairia. Do contrário estaríamos negando a característica de Deus de que “tudo sabe” e “tudo vê”. Com lúcifer ou sem lúcifer, temos que admitir que Deus criou o diabo, ou criou o diabo propriamente dito, ou criou lúcifer sabendo que ele viraria o diabo. Não sendo assim então ele não é criador de toadas as coisas, ou então não é onisciente. 

 3 – Alguns crentes argumentam que Deus não teria como saber que lúcifer decairia porque lúcifer tinha o livre arbítrio. Ora isso é possível sim, mas aí teremos que considerar relativizar a onisciência de Deus, não pode existir um “saber tudo” relativo, se for relativo já não é um “saber tudo”, logo Deus não seria onisciente. 

 4 – A existência de um ser com poder igual ou semelhante ao divino, sendo ou não esse ser criado por Deus, já causaria outro problema lógico. Deus deixa de ser onipotente. Se Deus não pode vencer o diabo, então seu poder não é pleno, ele não é o “todo poderoso”. 

 5 – Alguns crentes afirmam que “Deus permite que o diabo aja para por o homem a prova, para que o homem tenha o livre arbítrio”. Outra afirmação pueril, Qualquer pai ou mãe afasta seus filhos de pessoas ou influências negativas, afastamos nossos filhos do mal a qualquer custo, e perceba que somos humanos e imperfeitos, insignificantes diante do criador, imaginem Deus, sendo perfeito como agiria. Só há duas alternativas, ou Deus não pode com o diabo, ou se pode e permite que ele exerça seu poder, então é omisso. 

 6 – A idéia de que o homem pode ser condenado eternamente ao sofrimento do inferno é uma nítida, clara, límpida e cristalina prova desse nefasto instrumento de dominação através do medo, o cristianismo não pode mais prender, banir, torturar, levar a fogueira, decapitar ou torturar ninguém, então passou essa tarefa para o diabo, não aqui e agora, mas num futuro próximo. A idéia é mais ou menos assim, ou você me obedece, respeita minhas ordens, me da 10% de tudo que você ganha, (já que pretensamente falo em nome de Deus), ou o vai para o inferno. Ninguém ousa questionar o pastor ou padre, porque foi levado a crer que, se assim agir, estará na verdade questionando Deus, e se questionar Deus vai para o inferno. Que brilhante lógica de dominação. Eu e você, que temos filhos, somos imperfeitos, humanos, cheios de vícios e falhas, jamais permitiríamos que um filho sofresse, evitaríamos se pudermos evitar, jamais condenaríamos um filho a uma pena eterna mesmo sendo imperfeitos e cruéis como somos. Mas Deus que é perfeito não liga para os seus filhos, deixa-os queimar num tormento sem fim e não tem nenhum remorso disso. E olhe que me ensinaram que Deus era justo e bom. Imaginem se não fosse. 

 7 – Por fim, quando não encontram mais argumentos infantis para apresentar, disparam. “o diabo quer incutir na mente dos homens a idéia que ele mesmo não existe” Quando chega nesse nível do debate, temos de dar uma gargalhada e mudar de tema, afinal o crente deve ter algum assunto que ele domine de verdade não é? Nem que seja futebol.

 A idéia, traçada de forma sucinta é mais ou menos essa, não cabe aqui num blog fazer um tratado de teologia, ou seria demasiado enfadonho, ou não teríamos condições intelectuais para tanto, de qualquer forma a nossa lógica, nossa racionalidade cotidiana já é suficiente para desbaratar essa frágil idéia. Claro que as teorias dos crentes sobre o inferno se desmembram em inúmeros outros detalhes, inclusive amparados pela bíblia (por uma interpretação deturpada dela), quanto mais eles argumentam, quanto mais desmembram sua teoria, mais frágil e inconsistente ela fica. No fundo eles são manipulados, a tal ponto que não conseguem escapar de um círculo vicioso de astúcia e manipulação, não conseguem raciocinar logicamente e caem nas armadilhas dos que querem amealhar dinheiro a custas da ingenuidade alheia. Não dê dez por cento do seu suado salário ou do seu patrimônio a nenhum pastor esperto, nem a nenhuma instituição religiosa porque sente medo do inferno, o inferno não existe. E se eu estiver errado e ele existir....então quem não existe é Deus.