Nossa televisão aberta investe nas obviedades, reforça o culto ao belo, promove a estética grotesca e o assistencialismo rasteiro. O formato de seus programas não autoriza espaço para o pensamento mais elaborado e mais sofisticado, salvo depois das 23 horas e nas tvs por assinatura. Programas como o Jô Soares, Roda Viva, Observatório da Imprensa, esses dois da Tv Cultura de São Paulo, uma televisão pública, vão ao ar depois das 22, 23 horas. Ocorre esse fato, ou porque o "homem televisivo" é meramente visual, carecendo de inteligência, ou é porque a tv que aí está parte do pressuposto de que seu papel não é o de educar ou elevar a cultura do telespectador, mas ao contrário, imbecibilizá-lo.
A tv é um lugar de exibição narcísica. A tv é uma máquina narcísica que fabrica narcisos. Nela, vemos e somos vistos; artistas e mesmo intelectuais aparecem mais para serem vistos que para exporem idéias. Dominado mais pela estética que pela preocupação de conteúdo, sobretudo carente de eticidade, é que a televisão termina resvalando pelo mesmismo das fórmulas repetidas e copiadas, do assunto imposto, do pequeno tempo para exposição de assuntos complexos e interesses cada vez mais da audiência pelo lucro. Por isso que, P. Bourdieu, acha que a tv - enquanto veículo - não serve para se dizer idéias e tratar certos assuntos com profundidade e seriedade.
Personagem da tv gastam tanto tempo em blá-blá-blá em assuntos de lugar comum e com pessoas vazias de conteúdo, sobrando pouco espaço para tratar de assuntos substanciosos e personagens que são exemplos de vida. Se contarmos quanto tempo nela é dedicado para temas ligados a educação do pensamento, da saúde e dos costumes e quanto tempo é usado para a exposição de rostos bonitos, bundas, seios silicionados, jogos, junto com a alienação do lugares comuns do discurso religioso nas madrugadas, teremos o prognóstico não só da moral da televisão, mas do futuro da nação.
Sem nenhum psicologismo, não podemos deixar de reconhecer que a publicidade, a propaganda, os programas infantis, os filmes de crianças e adultos e, até certo tipo de jornalismo, fazem sucesso porquê se aproveitam de nossas pulsões anarquistas mais primitivas e perversas; estas servem para responder mais a estética que a ética. Servem para curtir o prazer gozozo e sem limites, que a coisa chata da obrigação de pensar, de discutir, de discernir o joio do trigo. Somos reféns de nossas pulsões, no sentido freudiano, que nos empurra mais para o sexo que para o amor, mais para a violência que para a paz, mais a quantidade de estímulos visuais sedutores que pela qualidade de programação, enfim, os dominantes da mídia sabem porquê investem mais em ilusão que em verdade. Não que o ser humano não precise de ilusão para realizar suas demandas e enganar seus desejos, mas é necessário fazer a crítica do efeito da manipulação ideológica cuja pretensão é substituir a realidade pela ilusão. Dito de outro modo, ao oferecer o circo como substituto da necessidade de pão, a ideologia que rege a televisão, acredita que as pessoas demandam viver mais de ilusão que de realidade.
O reality show pode ter uma vida curta como qualquer programa de tv que vive de delírio de grandeza num primeiro momento de sucesso para algum tempo depois cair na repetição do mesmo ou do desgaste da fórmula, mas precisamos ver para analisa-lo como um fenômeno psicossocial, político, cultural, etc.
O diplomada Osvaldo Aranha teria dito certa vez "não vi e não gostei". Infelizmente muitos intelectuais tem essa posição que prima pela ignorância. Os programas "tv realidade" e " lixo tv" (Big Brother, Casa dos Artistas, Ratinho, João Kleber, etc) deveriam ser vistos, mas não para "meter o pau" nem para "aprender a gostar" de banalidades ou se lamentar pelo tempo perdido. Sabemos que tais programas funcionam como drogas, viciando a que os assiste e expurgando o pensamento crítico. Mas, assistí0-los é mais uma obrigação de análise e preparo para melhorar seu ato educativos com os incautos.
Antes de tudo, devemos ficar alertas para o verdadeiro big brother (falo da ficção "1984", de George Orwel) que é o império das redes de comunicação como é a própria televisão regendo nossas vidas e nos pressionando a abandonar o nosso e ser o desejo deles.
RAYMUNDO DE LIMA
Um comentário:
qualquer semelhança deste texto com a "plim plim" é mera coincidência (risos)
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