quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

CURSO BÁSICO DE FILOSOFIA (Parte VI)

PLATÃO

BIOGRAFIA

Nascido em Atenas, Platão (427-347a.C.) pertencia a uma das maisnobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido asua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa“de ombros largos”.
Platão foi discípulo deSócrates, a quem considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens”. Depois damorte de seu mestre, empreendeu inúmeras viagens, num período em que ampliouseus horizontes culturais e amadureceu suas reflexõesfilosóficas.
Por volta de 387 a. C. retornou a Atenas, onde fundou sua própria escolafilosófica, a Academia,assim chamada por estar no jardim do herói gregoAcademos. Lá ensinava matemática, ginástica e filosofia. Ele valorizava muito amatemática, por ela nos dar a capacidade de raciocínio abstrato. Essa escola foiuma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundoocidental.
A maior parte do pensamento platôniconos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos,escritos por Platão.
Seriam 30 diálogos, dentre os quais osmais conhecidos; Apologia de Sócrates (onde torna público o discurso queSócrates fez em seu julgamento); Híppias Maior (diálogo sobre - o que é obelo?); Eutifron (diálogo sobre - o que é a piedade?); Menon (diálogo sobre - oque é a virtude?),Teeto (diálogo sobre - o que é a ciência?); Fédon (sobre aimortalidade da alma, faz um relato dos últimos dias de Sócrates), Crátilo (explica a relação entre as coisas e os nomes que lhes são dados.), O banquete(diálogo sobre o amor ao belo), Górgias (diálogo sobre a violência, faz adiferença entre a filosofia e a sofística),e o mais importante, A República ( umtratado completo, onde expõe um sistema de governo e modo de vidaideais).
Através dos diálogos, Platão vaicaracterizando as causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama deidéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis. Seriam reais, eternas esempre idênticas a si mesmas, escapando á corrosão do tempo, que tornaperecíveis os objetos físicos. Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam osmodelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópiasimperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o planomutável dos objetos físicos.
Um dos aspectos maisimportantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, com a qual procuraexplicar como se desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo deconhecimento humano se desenvolve por meio da passagem progressiva do mundo dassombras e aparências para o mundo das idéias e essências.
Se quiséssemos resumir afilosofia de Platão em uma palavra, poderíamos dizer que ela é fundamentalmente um dualismo. Ao admitir a existência dedois mundos: o mundo das idéias imutáveis, eternas, e o mundo das aparênciassensíveis, mutáveis; Platão concebe ao mundo sensível uma certa realidade, masele só existe porque participa do mundo das idéias do qual é uma cópia, ou, maisexatamente, uma sombra.
A teoria das idéias de Platãorepresenta a tentativa de conciliar as duas correntes anteriores: aconcepção do ser eterno e imutável deParmênides e a concepção do ser plural e móvel de Heráclito. Para Platão, o sereterno e universal habita o mundo da luzracional, da essência e da realidade pura. E os seres individuais e mutáveismoram no mundo das sombras e sensações, das aparências eilusões.

O VALOR DOS VALORES EM PLATÃO

Tomando por base a obraplatônica - República – Platão revelou o que está em jogo no conhecimento naalegoria da caverna, onde ele mostra a idéia de que conhecer consiste em seliberar das correntes que nos condenam à ignorância e onde ele desvenda que, emúltima análise, o problema do conhecimento se confunde com o da educação. Ohomem deve caminhar desde a opinião até à ciência educando-se gradualmente. Nomundo sensível, os homens são como escravos agrilhoados numa caverna e obrigadosa ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora. Tomam estas sombraspela realidade, porque não conhecem a realidade verdadeira. De fato, trata-se deoperar a passagem do mundo sensível ao mundo inteligível, e esse movimento é umdoloroso e difícil movimento de alforria. Exige etapas pelas quais a alma seesforça progressivamente por se elevar em direção às idéias, e compreendemos queessa ascensão é, antes de mais nada, uma conversão da sombra à luz, o que nofundo é uma maneira de reentrar em si mesmo para olhar com os olhos da almaaquilo que de início estávamos condenados a deformar, porque o captávamos com osolhos do corpo. A alma cravada às sujeições do corpo, as exigências da razãosufocadas pela onipotência dos desejos e dos interesses, eis os recursos daignorância e a vitória do mal, eis a caverna e sua sedução, eis também a idéiade que a salvação está na fuga. É para essa fuga do sensível que a ciência nosconvoca, é esse caminho de ascensão e de ascese que a educação platônicapropõe.
Desse modo, há uma ilusãoconstitutiva de nossa primeira abordagem do real e o que nos engana é,inicialmente, nós mesmos. As sombras da caverna são essas aparências sobre aparede de nossos sentidos. Deformamos o real porque o apreendemosespontaneamente através de nossas impressões sensíveis, de nossos desejos,nossas paixões, nossos interesses, nossos hábitos, em suma, através de tudoaquilo que nos confina nesse reino de ilusões em que, impotentes para ver osobjetos cujas sombras não passam de sombras, ignoramos que elas são sombras e astomamos por realidade. Esta impotência está ligada à passividade do espíritoacostumado desde a infância a receber sem exame muitas crenças falsas comoverdadeiras.
A educação consistirá, desse modo, emvolver o homem da consideração do mundo sensível à consideração do mundo do ser;e em conduzi-lo gradualmente a avistar o ponto mais alto do ser, que é o bem. Obem corresponde no mundo do ser ao que o sol é no mundo sensível. Como o sol nãosó torna visível as coisas com a sua luz mas as faz nascer, crescer ealimentar-se, assim o bem não só torna cognoscíveis as substâncias queconstituem o mundo inteligível, mas lhes dá ainda o ser de que são dotadas. Poresta sua preeminência o bem não é uma idéia entre as outras, mas a causa dasidéias.
Segundo Platão faz parte da educaçãodo filósofo o regresso à caverna, que consiste na reconsideração e nareavaliação do mundo humano à luz do que se viu fora deste mundo. Regressar àcaverna significa, para o homem, por o que se viu à disposição da comunidade,dar-se conta ele próprio deste mundo, portanto o seu mundo, e obedecer aovínculo de justiça que o liga à humanidade na sua própria pessoa e na dosoutros. Deverá, pois, reabituar-se à obscuridade da caverna; e então verá melhordo que os companheiros que ali permaneceram e reconhecerá a natureza e oscaracteres de cada imagem, por ter visto o seu verdadeiro exemplar: a beleza, ajustiça e o bem. Assim poderá o estado ser constituído e governado por gentedesperta e não por quem sonha e combate entre si por sombras, e disputa o podercomo se este fosse um grande bem.
Platão dá a entender que o poderideal do filósofo-rei permanece como uma hipótese-limite, portanto imperfeita,na cidade real. O homem não é Deus, pode tornar-se semelhante a ele e imitá-lopor via legislativa nas boas ou más imitações.
Daí nascem os diferentes regimespolíticos, monarquia, aristocracia, democracia, dos quais o primeiro éevidentemente o melhor, se for regulamentado pela lei, a democracia sendo opior, já que é impossível a multidão deter a ciência política; mas, se essesestados imperfeitos não estiverem submetidos à lei, então a monarquia é o piorregime e a democracia, o mais suportável.
A aristocracia, da palavra gregaareté, que significa virtude, é o governo dos melhores e dos mais capazes. Atimocracia, de thymos, que quer dizer valor, é o governo no qual os militaresassumem a preponderância; a oligarquia, de olígos, que significa poucos, é ogoverno dos ricos; a democracia, de demos, povo, o governo do maior número, damultidão, e a tirania, de tyrannis, o governo despótico, de um só. Platão não selimita a descrever cada uma dessas formas de governos e o tipo de alma oucaráter humano que lhe é correspondente, mas procura mostrar como esses governosse corrompem, transformando-se uns nos outros.
Na visão platônica a sociedadeperfeita seria aquela em que cada classe e cada unidade estivesse fazendo otrabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em quenenhuma classe ou indivíduo iria interferir nos outros, mas todos iriam cooperarna diferença para produzir um todo harmonioso. Este seria um Estadojusto.
O fim do Estado é tornar o indivíduofeliz, facilitando-lhe a prática das virtudes. Sua constituição é vazada nosmoldes da natureza humana. Correspondentes às três partes da alma distinguem-seno Estado três classes sociais: a) os filósofos, únicos capazes de desempenharcargos públicos; b) os guerreiros, incumbidos da defesa social; c) os operários,encarregados da sua subsistência material.
A cidade platônica não é utópicaporque preconiza a comunidade dos bens, das mulheres e das crianças, e aigualdade dos sexos, nem porque propõe a reforma moral e intelectual do cidadãoe a mudança da estrutura econômica e social da pólis. É utópica porque suarealização é aleatória, dependendo de um caso, o aparecimento e o êxito de umapersonalidade excepcional.
Desse modo, o governante do Estadoideal é um novo Demiurgo que, olhando o mundo divino e eterno das idéias,organiza, consoante a unidade e a harmonia deste, a sociedade humana, fazendoque ela considere como puramente instrumentais os bens empíricos e como fimsupremo a contemplação do Bem em si. O Estado visa pois realizar fins que otranscendem: comanda em nome de valores super-históricos e supersociais, aosquais o incita Eros filósofo.

O REGRESSO PLATÔNICO

Numa visão platônica há umarealidade diversa da mental e da sensível, isto é, o mundo das essências ideais,universais, incorpóreas, imutáveis, eternas, que ele chama Idéias. Assim, há oMundo das Idéias, transcendente, fora do espaço e do tempo, além do mundo e alémdos limites do pensamento. O Ser é a Idéia: esta a grande teseontológico-metafísica de Platão e do platonismo autentico. O que não é Idéia épela Idéia; o que não é Idéia é apenas por e enquanto participa da própriaIdéia.
O primeiro grau do conhecimento éa conjuntura ou conhecimento das imagens ( eikasía ); o segundo, o conhecimentoperceptivo ou crença ( pístis ). São os dois graus do conhecimento sensorial ouopinião ( dóxa ) que tem por objeto o mundo do devir; graus inferiores doconhecer, que ainda não são ciência, que é do universal e não do particular.Começa então a entrever-se obscuramente a verdade e isso incita a alma aultrapassar o sensível.
No livro VII da República, além dereconhecer que a sensação quando se limita ao simples sentir é conhecimentodigno de confiança, a sensação coloca a mente diante das contradições. A almaadverte uma aporia e é obrigada a abrir um "inquérito", isto é, a exercitarsobre as contradições o pensamento ( nóesis ). Na sensação são imanentes oselementos que incitam o pensamento a ultrapassá-la, a transcendê-la: ascontradições do sentido reclamam um esclarecimento e uma composição; por isso asensação é um reenvio ao pensamento. Um reenvio e um indício: as diversascoisas, iguais ou semelhantes formulam o problema do igual e do semelhante quesejam perfeitamente tais. Assim a sensação desperta a Idéia a quem sabe adquirirconsciência do apelo que ela contem à essência eterna e perfeita, da qual sãocópia o grau do ser que está nas coisas e o saber que está em nós.
Há algo de escandaloso naexperiência sensível, e esse escândalo é sempre, no platonismo, o motor dopensamento. Esse escândalo é a experiência da contradição. Que uma realidadepossa ser ao mesmo tempo ela mesma e seu contrário, eis o que é propriamenteininteligível e de natureza a suscitar o esforço de reflexão devido a confusão aque se acha relegado o pensamento. Ora, assim são os objetos sensíveis, eles nãotêm qualquer permanência, qualquer identidade, são e não são o que se diz queeles são. As grandezas sensíveis são portanto relativas, podendo uma quantidadequalquer ser considerada tanto como o dobro de outra, quanto como a metade deuma terceira. Essa afirmação fica explícita no seguinte enigma: " Um homem quenão é um homem, vendo e não vendo um pássaro que não é um pássaro empoleiradonuma árvore que não é uma árvore, bate nele e não bate com uma pedra que não éuma pedra". Seu sentido é: "Um eunuco zarolho visa um morcego empoleirado numsabugueiro com uma pedra-pomes, e erra o alvo." Esse enigma ilustra bem aambigüidade do sensível e o mal-estar intelectual que dele decorre. A alma éentão levada a examinar por si mesma o que lhe causa problema, ela arranca dasseduções do sensível e se esforça por torná-lo inteligível, valendo-seunicamente de seus recursos.
Desse modo, há uma ilusãoconstitutiva de nossa primeira abordagem do real e o que nos engana é,inicialmente, nós mesmos. As sombras da caverna são essas aparências sobre aparede de nossos sentidos. Deformamos o real porque o apreendemosespontaneamente através de nossas impressões sensíveis, de nossos desejos,nossas paixões, nossos interesses, nossos hábitos. Esta impotência está ligada àpassividade do espírito acostumado desde a infância a receber sem exame muitascrenças falsas como verdadeiras.
Platão estabelece duas relaçõesimportantes. O que o reflexo, a sombra é para o objeto real, o visível é para ointeligível, e a opinião é para a ciência. E sobretudo ele sugere a partilha dointeligível : o que o reflexo é para o objeto sensível, os objetos matemáticossão para as Idéias puras.
Regressar à caverna significa,para o homem, por o que se viu à disposição da comunidade, dar-se conta elepróprio deste mundo, portanto o seu mundo, e obedecer ao vínculo de justiça queo liga à humanidade na sua própria pessoa e na dos outros. Deverá, pois,reabituar-se à obscuridade da caverna; e então verá melhor do que oscompanheiros que ali permaneceram e reconhecerá a natureza e os caracteres decada imagem, por ter visto o seu verdadeiro exemplar: a beleza, a justiça e obem. Só com o regresso à caverna, só comprometendo-se o mundo humano, o homemterá completado a sua educação e será verdadeiramente filósofo.

IMPRTÂNCIA DA COSMOLOGIA PLATÔNICA

O diálogo Timeu divide-se basicamenteem três partes: constituição política, cosmologia e antropogênese.
A parte política, que é exposta naprimeira fase do diálogo define a "constituição mais perfeita e os homens quedevem aplicá-la" A constituição grega não atribui a cada um uma única função deacordo com a sua natureza, mas todos têm de guardar a cidade contra os que lhecausarem mal. Deverão tratar com brandura os que governam, e tratar sem piedadeos inimigos. "Além disso, as mulheres deverão harmonizar suas naturezas com asdos homens e torná-las semelhantes"
A cidade tem como fundadora a deusacujo nome grego é Atena ( deusa da sabedoria, aquela que dá bravura einteligência aos heróis ).
Para os gregos a deusa estabeleceu aconstituição e a ordem gerada pela mesma, bem como a forma das armas.
Depois de harmonizar o Estado, suasleis, atribuições e funções dos homens; e principalmente a instituição políticana vida dos habitantes gregos, o diálogo remete-se a uma segunda etapa, acosmologia.
A geração ou criação do cosmospareceria significar um início no tempo e não uma existência ab aeterno: a menosque se considere a própria criação como processo eterno; e é exatamente isso quePlatão sugere no Timeu, onde afirma que o criador "ao ordenar todas essascoisas, permanecia, de acordo com a sua natureza, no seu próprioestado".
Sua cosmologia vai estar ligada aosquatro problemas metafísicos: se existe ou não Deus, se há alma humana, onde omundo começou e sobre a natureza do mundo.
Ao definir a natureza humana, Platão,classifica-a como possuindo uma alma imortal, uma alma mortal e um corpo humano(mortal). Conceituou a produção das doenças da alma análogas às do corpo. Adoença da alma é a demência, e esta decompõe-se em duas espécies – a loucura e aignorância.
No decorrer do texto aparecerá odemiurgo (deus com causa eficiente = inteligência), este não será um criador,mas um semi-criador.
O demiurgo vai ordenar a matériasensível. Irá fazer uma relação entre o mundo sensível e o inteligível, com afinalidade de estabelecer a harmonia.
O que teremos é uma dialética bipolardo real, onde de um lado o mundo inteligível representará a ordem e de outro omundo sensível será definido como a desordem.
O que Platão faz é apresentar ocontraste entre a ordem e a desordem como sucessão de fases.
A gênese contada pelo mito (demiurgo)será a da inscrição da ordem inteligível no interior de uma desordem originária,do caos, da maneira de ser das coisas "na ausência de Deus".
Como as idéias poderão produzir aordem? No que concerne à conduta humana, é claro que é por intermédio da parteinteligente da alma: o nôus, ou a razão.
Mas como o inteligível imprimirá suamarca no universo físico? A questão é abordada pelo demiurgo, onde Platão mostraque é preciso encarar essa ação de maneira análoga ao modo pelo qual as idéiasagem em nós. Isso exige um princípio mediador entre o sensível e o inteligível –ou, segundo o próprio texto do Timeu, entre "aquilo que se torna sempre e jamaisé" e "aquilo que continua existindo sem ter tido nascimento". Esse mediador,artesão do mundo, Platão chamou-o de demiurgo.
Não podemos esquecer que para Platãotoda idéia é una e múltipla ao mesmo tempo, porque é unidade de notas e deespécies e é pluralidade delas: daí a conclusão de que cada idéia dá lugar a umamultiplicidade infinita de participações, e vem a ter, como seus elementos, ouno e o múltiplo, o limite e o infinito.
As idéias são ao mesmo tempotranscendentes, "reais" e interiores; onde o sensível participa do inteligívelporque, segundo o que expõe o mito do demiurgo, a idéia não assume somente umafunção de inteligibilidade e uma função ontológica, mas também uma funçãocosmológica.
O Timeu constitui um vasto mitocosmogônico, no qual Platão – revelando a crescente influência do matematismopitagórico – descreve a origem do universo.
"...foi a visão do dia e da noite,dos meses, das revoluções dos anos, dos equinócios, dos solstícios que nos fezencontrar o número, que nos deu a noção de tempo e a possibilidade de estudar a natureza do todo"
Esse fragmento acima expõe muito bema importância da matemática dentro do pensamento platônico. Aqui fica explícitoque foi a partir da descoberta do número que pôde-se estudar a natureza, e principalmente ordená-la e harmonizá-la.
"Quando Deus resolveu ordenar o todo,no começo, o fogo, a água, a terra e o ar traziam vestígios da sua próprianatureza, mas estavam no estado em que tudo se encontra naturalmente na ausênciade Deus. Foi neste estado que ele os foi buscar, e começou por dar-lhes umaconfiguração distinta por meio das idéias e dos números. Que os tirou da suadesordem para associá-los da maneira mais bela e melhor possível"
Partindo do pressuposto que o fogo, aterra, a água e o ar são corpos, e estes, sendo gêneros corpóreos que tem sempreprofundidade; e por conseguinte esta é envolvida pela natureza da superfície, esendo de formação retilínea, é composta de triângulos. De acordo com opensamento platônico os corpos são compostos de triângulos, e portanto suasproporções relativas ao seu número, aos seus movimentos e às suas outraspropriedades realizou-se em parte com exatidão. Pois, Deus na medida em que anatureza da necessidade se prestava voluntariamente e cedia à persuasão ordenoutudo numa proporção harmoniosa.
Desse modo, o mundo está harmonizadoem si mesmo por meio da proporção, pois quando Deus começou a ordenar ouniverso, ... o fogo, a terra, o ar e a água ... antes de tudo, dotou-os deformas e de números. Portanto, gerando o universo numa proporçãoharmoniosa.
A partir dos elementos de origem douniverso ( fogo, terra, ar e água) o texto explicita todas as variedades queresultam das figuras, das combinações e das transformações mútuas dos corpos.Através da enunciação dessas divisões e proporções, pelas quais a alma cósmicacompreende originariamente em sitodas as relações de número e de medida, é queela é inteiramente número e harmonia e dá origem a todas as determinações denúmero e a toda harmonia no universo. E assim os arquétipos de toda a realidadecorpórea e espiritual são todos número e proporção.
Em seguida, Platão, tenta mostrar ascausas das impressões que estes elementos produzem em nós. A partir desse pontosurge a antropogênese, pois Platão vai explicar todas as impressões sensíveispara poder tratar da origem da parte mortal da alma.
Decorrente da explicação das impressões sensíveis pode-se conceituar o princípio imortal da alma, o corpo mortal e a alma mortal. Isso fica bem explicado no seguinte fragmento:"...quanto aos animais mortais, encarregou os seus próprios filhos de gerá-los.Estes imitaram-no e, quando receberam dele o princípio imortal da alma,construíram um corpo mortal em volta da alma e deram-lhe como veículo o corpo inteiro: depois, neste mesmo corpo, construíram ainda outra espécie de alma, e alma mortal, que contém paixões temíveis e fatais(...) Então misturando estas paixões com a sensação irracional e o amor que tudo ousa, compuseram segundo alei da necessidade a raça mortal"
Donde conclui-se que pela cosmologia obtemos como decorrência a antropogênese. A partir daí Platão chega a conclusão de que Deus é sensível feito à imagem do inteligível, e de que existem seres vivos mortais e imortais.


AMOR PLATÔNICO

Há,na doutrina platônica sobre a alma, um outro elemento importante: Eros, o amor.Platão ensinava que Eros é uma força que instiga a alma para atingir o bem; elenão cessa de mover a alma enquanto essa não for satisfeita. O bem almejado é determinado pela parte da alma que prevalecer sobre as outras. Se fosse a sensual, por exemplo, a alma não buscaria um bem verdadeiro, pois procuraria a satisfação dos desejos que Platão julgava os mais baixos, como o apetite e aganância. Segundo o filósofo, o melhor é que a alma seja conduzida por suaparte racional e que utilize a energia inesgotável do amor para se dirigir aobem verdadeiro - que compreende a justiça, a honra, a fidelidade; em suma, asvirtudes supremas.
Platão dedicou uma desuas obras exclusivamente ao discurso sobre o amor:O Banquete.(...) Para Platão, que usaSócrates como personagem, o amor é a insuficiência de algo e o desejo deconquistar aquilo de que sentimos falta. O amor dirige-se para o bem, cujaaparência externa é a beleza

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