quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

CURSO BÁSICO DE FILOSOFIA (Parte VII)

Aristóteles (384-322 a.C.)

Filósofo grego, um dos mais importantes pensadores de todos os tempos. Nasceu em Estagira, filho de Nicômaco, médico de Amintas II, rei da Macedônia e pai de Filipe. Aos dezessete anos, foi para Atenas, tornando-se discípulo de Platão na Academia. Continuaria por vinte anos ao lado do mestre, até a data de sua morte. Deixando Atenas, foi para Assos, na Ásia Menor, onde Hérmias, ex-membro da Academia, governava. Lá desposou Pítias, sobrinha de Hérmias. Com a morte deste, mudou-se para Mitilene, onde permaneceu por dois anos. Falecendo sua esposa, desposou posteriormente Herpilis, que lhe deu um filho, Nicômaco. Em 343, mudou-se para a corte de Pela, porque Filipe da Macedônia lhe confiou a tarefa de educar seu filho, Alexandre. Em 336, com a morte de Filipe e ascensão de Alexandre ao trono, este rei iniciou as expedições que lhe permitiram construir um vasto império. Nesta data, Aristóteles regressou a Atenas, onde fundou sua própria escola, o Liceu, que se transformou em importante centro de estudos, não apenas filosóficos mas, igualmente, de ciências naturais, dotado de imponente acervo de livros, instrumentos e espécimes. Após a morte de Alexandre, em 323, a facção nacionalista extremada de Atenas dirigiu contra Aristóteles o ódio devotado ao líder macedônio, acusando o filósofo de impiedade. Aristóteles refugiou-se em Cálcis, onde veio a falecer no ano seguinte.
A obra aristotélica era dividida em duas espécies de escritos: uma destinada ao grande público (obras exotéricas), redigida em forma dialética, e outra de caráter demonstrativo e didático, composta para os alunos da escola (obras acroamáticas). Da primeira espécie, restam-nos apenas dois diálogos: Eudemo e Protréptico. As obras dedicadas ao ensino do Liceu foram conservadas pela escola e um grande número delas chegou até nossos dias. Elas se encontram sistematicamente divididas em seis grupos: escritos lógicos, que receberam a denominação genérica de Organon, compreendendo Categorias, Sobre a Interpretação, Analíticos (Primeiros e Segundos), Tópicos e Refutações Sofísticas; estudos da natureza, que incluem dois grupos, o primeiro de estudos físicos, dos quais fazem parte a Física, Sobre o Céu, Sobre a Geração e a Corrupção e Meteorológicos e o segundo de estudos biológicos, referentes ao mundo vivo, onde figuram Da Alma e História dos Animais, composta de estudos acerca de suas partes, geração, movimento; filosofia primeira, que inclui os catorze livros agrupados posteriormente sob a denominação Metafísica; os escritos éticos e políticos, de que fazem parte a Ética a Nicômaco, Ética a Eudemo e Política; finalmente, as obras Retórica e Poética (desta última nos restam somente fragmentos), que merecem, cada uma, um lugar próprio.
Enquanto seu mestre Platão inclinou-se preferencialmente por fazer desenhos de construções sociais imaginárias, utópicas, por projeções sobre qual o melhor futuro da humanidade, Aristóteles, seu discípulo mais famoso, procurou tratar das coisas reais, dos sistema políticos existentes na sua época. Atentou por classificá-los, definindo suas características mais proeminentes, separando-os em puros ou pervertidos. Desta forma, enquanto Platão inspirou revolucionários e doutrinários da sociedade perfeita, Aristóteles foi o mentor dos grandes juristas e dos pensadores políticos mais inclinados à ciência e ao realismo
Aristóteles discordava em alguns pontos de Platão. Não acreditava que existisse um mundo das idéias abrangedor de tudo existente; achava que a realidade está no que percebemos e sentimos com os sentidos, que todas as nossas idéias e pensamentos tinham entrado em nossa consciência através do que víamos e ouvíamos e que o homem possuía uma razão inata, mas não idéias inatas.
Para Atistóteles, tudo na natureza possuía a probabilidade de se concretizar numa realidade que lhe fosse inerente. Assim, uma pedra de granito poderia se transformar numa estátua desde que um escultor se dispusesse a escupi-la. Da mesma forma, de um ovo de galinha jamais poderia nascer um ganso, pois essa característica não lhe é inerente.
Aristóteles acreditava que na natureza havia uma relação de causa e efeito e também acreditava na causa da finalidade. Deste modo, não queria saber apenas o porquê das coisas, mas também a intenção, o propósito e a finalidade que estavam por trás delas. Para ele, quando reconhecemos as coisas, as ordenamos em diferentes grupos ou categorias e tudo na natureza pertence a grupos e subgrupos. Ele foi um organizador e um homem extremamente meticuloso. Também fundou a ciência da lógica.
Aristóteles dividia as coisas em inanimadas (precisavam de agentes externos para se transformar) e criaturas vivas (possuem dentro de si a potencialidade de transformação). Achava que o homem estava acima de plantas e animais porque, além de crescer e de se alimentar, de possuir sentimentos e capacidade de locomoção, tinha a razão. Também acreditava numa força impulsora ou Deus (a causa primordial de todas as coisas).
Sobre a ética, Aristóteles pregava a moderação para que se pudesse ter uma vida equilibrada e harmônica. Achava que a felicidade real era a integração de três fatores: prazer, ser cidadão livre e responsável e viver como pesquisador e filósofo. Cria também que devemos ser corajosos e generosos, sem aumentar ou diminuir a dosagem desses dois itens. Aristóteles chamava o homem de ser político. Citava formas de governo consideradas boas como a monarquia, a aristocracia e a democracia. Acreditava que sem a sociedade ao nosso redor não éramos pessoas no verdadeiro sentido do termo.
Aristóteles compôs dois grandes trabalhos sobre a ciência política: "Política" (Politéia) que provavelmente eram lições dadas no Liceo e registradas por seus alunos, e a "Constituição de Atenas", obra que só se tornou mais conhecida, ainda que em fragmentos, no final do século XIX, mais precisamente em 1880-1, quando foi encontrada no Egito; registra as várias formas e alterações constitucionais que ela passou por obra dos seus grandes legisladores, tais como Drácon, Sólon, Pisístrato, Clístenes e Péricles e que também pode ser lida como uma história política da cidade.

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